Excelência no cultivo e clima favorável garantem qualidade excepcional nas uvas para vinhos elaborados no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, observa o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Celito Guerra.
A safra de uva este ano no Rio Grande do Sul deve somar cerca de 700 milhões de quilos, segundo projeção do Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho) divulgada nesta quinta-feira (26), último dia da ExpoVinis 2012, em São Paulo. “Sofremos perdas em consequência do granizo que atingiu os parreirais no Estado, responsável por cerca de 90% da elaboração brasileira de vinhos e 55% da produção de uvas, mas, por outro lado, ocorreu um aumento na área cultivada que compensará estes prejuízos”, avaliou o presidente do Conselho Deliberativo do Ibravin, Alceu Dalla Molle. Na safra passada, o RS colheu a maior safra da sua história, com 707,2 milhões de quilos de uvas tiradas das videiras gaúchas.
Os especialistas são unânimes em afirmar que a safra 2012 de uvas entra definitivamente para a história do setor vitivinícola na região Sul do país. Como que para dar veracidade a uma costumeira anedota entre os produtores de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a teimosia foi recompensada. “O cultivo foi o mesmo do ano passado, por exemplo, que registrou uma safra menos expressiva em termos de qualidade. Isso não significa que houve alguma falta de cuidado em 2011, pois os produtores fizeram exatamente a mesma coisa agora, em 2012. A diferença é que, desta vez, as condições naturais colaboraram”, explica o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), segmento Uva e Vinho, Celito Guerra, 48 anos.
Para o estudioso, há 22 anos na entidade, seguramente a safra 2012 nos dois estados do extremo sul brasileiro fica entre as três melhores dos últimos 50 anos, em nível de qualidade equivalente às emblemáticas colheitas de 2005 e 1991. “Só saberemos quão boa foi esta safra quando vierem os vinhos elaborados a partir de suas uvas. Mas, com certeza, a qualidade foi muito elevada. Pode até ter havido safras muito boas nos anos 1970, por exemplo, mas naquela época não tínhamos uvas decentes nem tecnologia de ponta, como agora”.
A alta qualidade desta safra pode ser comprovada pela análise do Grau Babo de 280 amostras coletadas pela Divisão de Enologia as Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa). A uva merlot, por exemplo, teve uma graduação média de 18,02 este ano, enquanto em 2005 foi de 18,13 e no ano passado de 16,12. A chardonnay registrou 17,08 de graduação média, ante 17,44 de 2005 e 16,78 de 2011. “Esta é a melhor safra que o Vale dos Vinhedos já viu”, afirma o diretor-técnico da Aprovale, Daniel Dalla Valle. “Esta é a melhor safra que pude acompanhar em 30 anos no Brasil”, declara Carlos Abarzua, diretor em viticultura da ABE (Associação Brasileira de Enologia).
Guerra explica que o cultivo de uvas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em 2012, foi favorecido pelo fenômeno La Niña – cuja ocorrência costuma registrar anuidade intercalada. O clima seco, entretanto, só pôde ser bem aproveitado graças aos cuidados na produção, com vinhedos implantados nos locais mais propícios nos aspectos de exposição solar e características do solo. “Tivemos uma temporada de muito sol, baixa umidade e baixa precipitação pluviométrica, com temperaturas quentes durante o dia e amenas à noite. O clima seco permitiu que as uvas fossem deixadas mais tempo no pé e, por consequência, adquirissem maior maturação”.
O pesquisador José Fernando da Silva Protas, também da Embrapa Uva e Vinho, vai mais longe. Conforme ele, em termos de qualidade, pode-se esperar vinhos oriundos das uvas da safra 2012 com a “melhor qualidade da história”. “A razão é que, esta safra, concilia um comportamento climático excepcional com os grandes avanços tanto na qualificação técnica no campo quanto na estrutura tecnológica da indústria”, explica Protas.
Equilibrio e harmonia.
A qualidade dos vinhos que serão elaborados posteriormente resulta de uma delicada sintonia entre todas as características da matéria-prima colhida agora – Grau Babo (índice de açúcar), acidez, aroma (principalmente no caso dos brancos), tanino e polifenóis (especialmente nos tintos). Os polifenóis são os compostos orgânicos que conferem ao vinho as características de cor, corpo e longevidade.
“Há particularidades para cada região produtora do país. O Vale do São Francisco (particularmente na área produtora do interior pernambucano), por exemplo, tem outro regime climático e de cultivo, não pode ser comparado. A região cafeeira do sul de Minas Gerais, em outro caso, aparece com bom potencial, foi muito bem este ano, mas tem apenas quatro ou cinco safras de história. Rio Grande do Sul e Santa Catarina, de um modo geral, em todas as suas microrregiões produtoras, foram muito favorecidos pelo clima. Mas isso só resulta em uvas de qualidade porque houve excelência no cultivo”, finaliza Guerra.
Fonte: Orestes de Andrade Jr. - OAJ Comunicação & Marketing
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