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segunda-feira, 25 de abril de 2011

“Todos os espumantes brasileiros são muito bons”, afirma Oz Clarke


Um dos mais famosos críticos de vinhos do mundo, o britânico Oz Clarke veio pela segunda vez ao Brasil e ficou apaixonado pelos espumantes moscatéis e pelas borbulhas elaboradas através do método Charmat. Ele integrou o Projeto Imagem Internacional acompanhado de dois jornalistas norte-americanos, um alemão e um finlandês.



Um dos mais famosos críticos de vinhos do mundo – o britânico Oz Clarke – esteve no Brasil pela segunda vez para conhecer melhor da produção vitivinícola verde-amarela. Ele participou do Projeto Imagem do Wines of Brasil, projeto de promoção comercial dos vinhos finos brasileiros no mercado externo, realizado em parceria entre o Ibravin e a Apex-Brasil, ao lado de mais quatro jornalistas internacionais, especializados no setor: Michael Desimme e Jeffrey Joseph Jenssen, dos Estados Unidos; Antti Uusitalo, da Finlândia; e Frank Kaemmer, da Alemanha.

O grupo visitou 11 vinícolas na Serra Gaúcha – Miolo, Pizzato, Casa Valduga, Don Laurindo, Aurora, Don Giovani, Geisse, Lidio Carraro, Boscato, Perini e Salton – todas integrantes do Wines of Brasil. Ainda participaram de degustações de vinhos das vinícolas Irmãos Basso, Piagentini, Adega Cavalleri, Campos de Cima e Courmayeur e das cantinas do Planalto Catarinense (Santo Emílio e Sanjo), além de fazerem uma visita à Escola de Gastronomia UCS-ICIF, situada em Flores da Cunha, e na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves. Confira, a seguir, as opiniões de Oz Clarke sobre os vinhos do Brasil.

A íntegra de seu depoimento, transformado na entrevista abaixo, pode ser vista no site Youtube, no endereço
http://www.youtube.com/watch?v=eItCl7UxWeQ

 
O Sr. encontrou a tradição italiana nos produtores imigrantes da Serra Gaúcha?


Oz Clarke: Menos do que deveria. Esse é provavelmente um dos paradoxos da Serra Gaúcha. Eu vejo a história, a cultura, tudo da cultura italiana. Todavia, os produtores estão um pouco presos a uma abordagem francesa nos vinhos que elaboram. A raiz dessas pessoas, o sangue dessas pessoas é basicamente italiano. E há todas essas uvas, Merlot, Cabernet, Cabernet Franc, Tannat, Chardonnay, todas do tipo francês.



Como o Sr. acha que deveriam ser os vinhos da Serra Gaúcha?

Oz Clarke: O que eu gostaria de ver mais aqui nestas maravilhosas colinas é o lugar de onde os produtores vieram e as uvas que trouxeram consigo. Gostaria de voltar ao norte da Itália e encontrar uvas como Corvina, Molinara, Rondinella, Lagrien. Eu sei que tem Lagrien aqui, degustei um vinho maravilhoso. Refosco do norte do Vêneto. Degustei dois Refoscos. Teroldego, sabemos que tem Teroldego, degustei dois ou três. Gostaria de ver mais disso.



E os vinhos brancos?

Oz Clarke: Sempre que bebemos vinho branco é Chardonnay. Tenho degustado Chardonnays por anos e, por isso, preciso de um bom Chardonnay para me animar. Eu tive contato com alguns do Brasil, um sem carvalho, muito bom, e um de Santa Catarina, muitíssimo bom, com carvalho. Mas, no geral, acredito que a região deva encontrar mais uvas brancas para cultivar. Se olharem em dez anos o mundo não estará correndo para as suas portas pedindo mais Chardonnay. O mundo não correrá para pedir mais Merlot. Porque o mundo já produz muitos Chardonnays, Merlots e Cabernets excelentes.



Quais seriam as opções?

Oz Clarke:
Que tal voltar à Itália e procurar variedades brancas que são difíceis de cultivar e que, mesmo assim, são cultivadas por lá. Talvez elas se adaptem as suas condições da Serra Gaúcha. Que tal uvas como Falengina, Fiano, Avalino, Pecorino, Catarata, que tal essas? Vale a pena tentar? Acho que sim.



Os espumantes brasileiros são muito elogiados. O Sr. gostou do que experimentou?

Oz Clarke:
Vocês têm os mais fantásticos espumantes moscatéis do mundo. Eles são puro prazer. De alto padrão. Vocês têm essa linda versão de vinho branco moscato exclusiva, só de vocês, com acidez alta e lindo perfume de fruta. E fazem ótimo uso disso. Continuem fazendo isso, o mais fresco possível, mais brilhante possível, não elevem muito o açúcar, não tem necessidade. Eu gostaria que tivessem uma versão mais seca junta com a sua normal. O espumante moscatel é uma bebida maravilhosa. Não pensem só como vinho, não pensem com que comida combina. É um vinho de sobremesa? Sim, se quiser. É uma bebida, é como uma caipirinha, um bom gin-tônica, uma bebida, isso que o espumante moscatel é. E assim deveria ser vendido.



E os outros espumantes brasileiros, o que o Sr. achou?

Oz Clarke:
Os seus Charmats elaborados de Chardonnay e Pinot Noir são fantásticos. A qualidade no nariz a baixo custo é incrível! No mundo inteiro encontramos Charmats que quase sempre são um lixo. Os seus são realmente bons. Vocês também têm espumantes elaborados pelo método tradicional, que são até melhores. Todos os seus espumantes são muito bons.



Na sua opinião, o vinho brasileiro pertence ao Novo ou ao Velho Mundo do vinho?

Oz Clarke:
A cultura de vinhos no Brasil é ainda jovem. Não há nada errado com isso, é ótimo ser jovem! Ser velho muitas vezes atrapalha. A Nova Zelândia tem cultura jovem no vinho, o Chile é jovem, a Argentina é bem jovem, a Austrália tem 30 ou 40 anos, a África do Sul, a verdadeira África do Sul, que faz vinhos maravilhosos, tem 5 ou 10 anos. Então juventude é ótimo, pois permite fazer o que quiser. Tentem de tudo.



Quais regiões produtoras mais lhe chamaram a atenção no Brasil?

Oz Clarke:
Tenho grandes esperanças na Serra do Sudeste e na Campanha Gaúcha. Essas regiões, para mim, parecem ser um novo mundo para o Brasil. Tenho grandes esperanças em Santa Catarina. Tenho esperança que aquela altitude e boa insolação, noites frias e dias quentes, possam produzir muito bem. Ambas são áreas novas, ambas têm somente algumas centenas de hectares cultivados até agora. Mas eu investiria nesses lugares como novas regiões produtoras do Brasil e do mundo.



E a Serra Gaúcha?

Oz Clarke:
A Serra Gaúcha, se continuar com as uvas que tem, será uma região de velho mundo, e nada há nada de errado nisso. Há uma atmosfera de velho mundo em Bento Gonçalves, uma sensação de velho mundo sobre as colinas, os vales, tudo aqui parece velho mundo e lindo! É o velho mundo de Piemonte, Trento, do norte do Vêneto, isso é absolutamente fantástico. Se quiserem ficar com os seus Merlots e Chardonnays etc, tudo bem. Só façam o melhor possível. Vocês fazem vinho muito bem aqui na Serra Gaúcha, com baixo teor alcoólico, que é uma habilidade especial. Conseguem textura, sabor e equilíbrio nos vinhos tintos com 12%, 12.5% de álcool, e isso é raro. Aliás, a tendência no mundo é de se consumir mais vinho com menos álcool. Se conseguirem sabor e personalidade com 12%, 12.5% de álcool, é uma conquista fantástica, uma habilidade fantástica. Isso é velho mundo ou novo mundo? É velho mundo beber vinho nesse teor. Costumavam fazer isso, bebiam vinho a 11%, 10%. Querem elaborar vinho com 11%? Tentem! Mas 12 no momento serve, para começar.



O que mais pode ser o diferencial do Brasil?

Oz Clarke:
Sou curioso para saber o que os produtores brasileiros conseguiriam fazer se tivessem uma abordagem diferente, ao invés de insistir nessas formas francesas, nesses exemplos franceses. Que tal se aventurar para ver o que pode funcionar? Adoraria voltar em alguns anos e ouvir as pessoas dizerem, “cultivamos essa uvas que encontramos na Áustria, na República Checa, no norte da Itália, em Portugal”. Sabe que as uvas de Portugal talvez se adaptem melhor à Serra do Sudeste e à Campanha. Gostaria de voltar e encontrar pessoas dizendo, “estamos cultivando mais variedades”. Pelo menos manterão seus filhos interessados, porque se estão fazendo algo e os filhos fizerem parte disso também, tem que fazer algo para satisfazê-los.



Qual a sua avaliação geral sobre a qualidade dos vinhos brasileiros?

Oz Clarke:
A enologia aqui é muito correta, até melhor do que era dois anos atrás. Os vinhos que não tinham expressão, agora têm. Eles são muito corretos, com essa forma certinha. Mas eles vestem terno e gravata, eles não tiram as roupas e vestem um camisetão de praia e dizem: “ei olhem para nós!” Esse não é o Brasil... Não é o que vocês fazem! Vocês vão a praia, tiram a roupa, querem se divertir. Tudo isso pode estar nos seus vinhos. Tem muita gente séria por aí. Querem ser sérios, vão para Bourdeaux por uma semana, Champagne... Querem ser sérios? Vão lá, vão para Chianti, lugares assim para ver se alguém está se divertindo. Deveria haver exuberância nos seus vinhos. Nada muito sério, tirem a gravata, joguem fora, tirem o terno, coloque a camiseta de praia vão para a piscina com o melhor vinho que conseguirem produzir.



Frases em destaque:


Vocês fazem vinho muito bem aqui na Serra Gaúcha, com baixo teor alcoólico, que é uma habilidade especial. Conseguem textura, sabor e equilíbrio nos vinhos tintos com 12%, 12.5% de álcool, e isso é raro.



Vocês têm os mais fantásticos espumantes moscatéis do mundo. Eles são puro prazer.
De alto padrão. É uma bebida maravilhosa.



Os seus Charmats elaborados de Chardonnay e Pinot Noir são fantásticos. A qualidade no nariz a baixo custo é incrível! Todos os seus espumantes são muito bons.



A enologia aqui é muito correta. Os vinhos que não tinham expressão, agora têm. Eles são muito corretos, mas eles vestem terno e gravata. Tirem a gravata, o terno, coloquem a camiseta de praia, e vão para a piscina com o melhor vinho que conseguirem produzir.

Obs: Oz Clarke ficou hospedado no SPA do Vinho no Vale do Vinhedos (na imagem do Youtube, Vinícola Miolo ao fundo).


Fonte: IBRAVIN
imprensa@ibravin.org.br
www.ibravin.org.br

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